O
Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (Ipedi) foi uma das
organizações contempladas para participar da campanha internacional “Abrace o Brasil”,
realizada pela associação Brazil Foundation. A iniciativa busca fazer
arrecadação de recursos para auxiliar no financiamento de projetos e ações
comunitárias de instituições em todo o Brasil, nas mais variadas frentes de
atuação. São projetos de acompanhamento de crianças com microcefalia, apoio a
comunidades ribeirinhas da Amazônia, coletivos populares de comunidades
carentes do Rio de Janeiro, entre outros. No caso do Ipedi, a campanha Abrace o
Brasil pretende arrecadar fundos para dar continuidade, ampliar e melhorar o
projeto Barco de Letras que promove a alfabetização de pescadores ribeirinhos
no Pantanal de Mato Grosso do Sul. O mote da campanha específica do Ipedi é
“Abrace o Barco de Letras do Pantanal e colabore com projetos educacionais”.
“É a
primeira vez que participamos de uma campanha deste nível. E só decidimos
aderir porque conhecemos toda a seriedade da Brazil Foundation, nossa parceira
de todas as horas e reconhecida pela revista Exame como uma das mais confiáveis
e importantes organizações não governamentais do Brasil”, diz a presidente do
Ipedi, doutora Denise Silva, uma das idealizadoras do projeto Barco de Letras.
“A iniciativa do Barco de Letras só é possível graças ao empenho da
coordenadora do projeto e quem ajudou a criar a concepção que hoje é utilizada,
a Janete Correa. Por conta de toda essa credibilidade construída, pelos
resultados obtidos e pela satisfação dos pescadores que participam das aulas é
que optamos por participar da campanha Abrace o Brasil com o Barco de Letras”,
completa Denise. Segundo a presidente os recursos arrecadados pela campanha
coordenada pela Brazil Foundation farão com que seja possível que o Barco de
Letras atenda um número maior de alunos e que a iniciativa não seja encerrada,
garantindo a continuidade do aprendizado dos alunos.
Transformação
A dona
Nilza Bandeira é pescadora de família conhecida em toda região de Miranda,
município do Pantanal de Mato Grosso do Sul. Tradicionais pescadores do Rio
Miranda, a família da dona Nilza conhece as manhas dos rios do Pantanal. E vai
tocando a vida ali conforme as cheias e as “baixas” das águas dos rios da bacia
do Paraguai. E nessas idas e vindas do rio e da vida, a dona Nilza teve que
deixar muita coisa para depois. Ir à escola foi uma delas. A dona Nilza não
sabe ler. E não saber ler é muito difícil nos dias de hoje. Você consegue
imaginar como é? A dona Nilza tenta explicar: “É como se a gente estivesse cego
no mundo”, descreve.
Conversamos
com a dona Nilza numa sala da sede da Colônia de Pescadores Z-5. Enquanto a ouvimos
contar sua história, no espaço ao lado estão seus amigos, familiares,
conhecidos. Todos pescadores artesanais que tiram dos rios do Pantanal o
sustento de suas famílias ribeirinhas. Em comum, eles têm a mesma “cegueira” da
dona Nilza. São analfabetos. Uns escrevem, conhecem o “a, e, i, o u”. Outros,
nem isso.
A dona
Nilza está feliz porque esta história de “cegueira” está mudando. Dona Nilza e
seus colegas pescadores estão entrando num barco novo, diferente dos que em que estão acostumados: é o Barco de Letras.
“Esse projeto vai ser muito importante na minha vida do meu esposo também ele
nem assina o nome dele direito. Então na minha família isso vai ser muito
importante, vai ajudar muito a gente. Eu fiquei muito feliz quando eu soube que
a gente ia ter aulas, pra poder aprender mais um pouco e poder se instruir
melhor né, eu achei muito bom”.
O
projeto está oferecendo alfabetização para pescadores ribeirinhos do Pantanal,
respeitando a realidade local e começou com 25 pescadores que frequentam as
aulas no espaço da Colônia de Pescadores, todos os dias, no fim da tarde. O
exercício da profissão deles obriga o projeto a se adaptar. Muitos dos alunos
saem para o rio e ficam Pantanal adentro por semanas, morando nas chalanas.
Levam, consigo, tarefas preparadas pela professora Janete. “Eles levaram as
atividades e fizeram o compromisso de fazer”, relata Janete, com a confiança de
que só dispõe quem realmente conhece a realidade peculiar destes alunos. Este é
apenas um dos desafios do projeto.
Outro
desafio se refere à demanda que, com o desenrolar das atividades, está
crescendo. Mais pescadores, confiantes no projeto, têm demonstrado o desejo de
aprender a ler e a escrever. É o caso, por exemplo, de um grupo de pescadores
residentes em Salobra, distrito que fica a cerca de 20 quilômetros da área
urbana de Miranda. Lá, já são 18 pescadores, divididos em duas turmas. As aulas
deles acontecem aos sábados, nas casas dos alunos, e contam com o apoio da
Colônia de Pescadores local.
“Aprender
a ler e a escrever é o que eu mais quero neste mundo”, diz o seu Nilson Samuel,
mais conhecido como seu Enio, aluno do projeto e dono da casa onde ocorreu a
aula inaugural em Salobra. Ele conta que até tem Whatsapp no celular mas que
para se comunicar é obrigado a pedir que
seus contatos mandem áudios, porque ele não sabe ler.
Doação
A sua
doação para o Barco de Letras do Pantanal pode ser feita acessando o endereço www.abraceobrasil.org/ipedi. Os valores que podem ser doados on-line
são R$ 15, R$30, R$100, R$ 250, R$ 500 e R$ 1000. Os recursos serão destinados
pela Brazil Foundation e pelo Ipedi para manter e ampliar o Barco de Letras.
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