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COMPARTILHANDO CONHECIMENTOS: CONHEÇA COMO O IPEDI DESENVOLVE OS PROJETOS SOCIAIS NAS COMUNIDADES DO PANTANAL

O desafio do acolhimento
Ao longo de vários anos desenvolvendo projetos em contextos socialmente complexos –  em especial em comunidades tradicionais da região do Pantanal – por mais diversas que fossem nossas atividades, por mais diferentes que fossem nossos públicos, o desafio inicial era sempre o mesmo: como acessar essas pessoas, como acessar essas comunidades para que elas compreendessem e aceitassem o trabalho que estávamos propondo para melhorar as vidas delas, seja no aspecto econômico, educacional, enfim.

Nós nos perguntávamos como faríamos para que essas pessoas compreendessem que o que estávamos propondo era bom pra elas, pra suas comunidades, pra sobrevivência no curto e no longo prazo?

Era uma tarefa difícil compreender este desafio. Especialmente porque lidamos com ciclos fechados de pessoas, que possuem suas próprias regras internas, baseadas em conhecimentos tradicionais arraigados, que acabam gerando resistência à chegada de qualquer ideia nova, que venha de fora. É um sentimento xenofóbico que, ao mesmo tempo em que causa barreiras para o nosso trabalho, garante ainda a sobrevivência de uma riqueza cultural que vem sendo passada de geração para geração.

O desafio de responder a este questionamento inicial de como nos fazermos aceitos pelas comunidades passou a ser melhor respondido quando, na nossa lida diária com essas pessoas, com as comunidades, percebemos que a pergunta que fazíamos é que estava errada: nós não tínhamos que ser aceitos, nós não tínhamos que fazer as comunidades nos compreenderem – pelo contrário – nós precisávamos descer dos nossos pedestais de heróis, salvadores da pátria, para olhar de igual para igual para as comunidades, para as pessoas. Assim percebemos que nos colocando no lugar das pessoas, no nível dos nossos amigos das comunidades, buscando compreender a vida deles, os acontecimentos que os levaram a chegar a um determinado ponto em que nosso trabalho como organização social fosse necessária, só aí é que fomos capazes potencializar os impactos das nossas ações na vida das comunidades.

Foi, então, que conhecemos e passamos à prática do conceito de empatia, aquela ação em que eu me dispo dos meus preconceitos, dos meus julgamentos, para me colocar no lugar do outro.

Neste ponto, quero compartilhamos com vocês o conceito de empatia que nos direciona no Ipedi:
“Não é sentir pelo outro, mas sentir com o outro. quando a gente lê o roteiro de outra vida.
É ser ator em outro palco. É compreender.
É não dizer ‘eu sei como você se sente’.
É quando a gente não diminui a dor do outro. é descer até ao fundo do poço e fazer companhia pra quem precisa.
Não é ser herói, é ser amigo.
É saber abraçar a alma”.
João Doederlein

A construção da convivência
O processo para desconstrução dos nossos conceitos e preconceitos é bastante complicado e, às vezes, doloroso, mas necessário. Para estarmos de coração aberto e compreender a vida da pessoa com a qual iremos nos relacionar.

É a partir da prática da empatia que produzimos a simpatia que consiste, como diz o  professor Mário Sérgio Cortella (no vídeo disponível neste link
https://www.youtube.com/watch?v=OgfCig3e65w ), na “convivência respeitosa e frutífera”.

Quando a gente desce do nosso pedestal de heróis, quando nos colocamos no nível de dor da pessoa, sem preconceitos, conseguimos criar um vínculo importante de simpatia. Sem este vínculo, aquela barreira colocada pela pessoa com a qual nos relacionamos, neste caso com nossos públicos, fica mais difícil de ser transposta.

A simpatia ajuda a abrir uma fresta, pra gente entrar no mundo da pessoa e compreender sem julgar, de que modo, em que circunstância sua vida se desenrolou a ponto de chegar onde está, o ponto em que se faz necessário o apoio de uma organização social para ajudar a promover uma vida melhor para ela e sua comunidade.

Partilhar objetivos
Depois que a gente entra no mundo da pessoa, do nosso público-alvo, e compreende as agruras pelas quais eles passam olhando de dentro, só a partir daí é que nós podemos construir objetivos em comum.

É neste ponto em podemos verificar: o que a gente pensava para esta comunidade é realmente o que ela deseja? Às vezes a gente descobre que o que víamos de fora não é o mesmo que eles viam de dentro. É preciso acertar essas arestas, para que o trabalho que você propõe entre em sintonia com o que a comunidade deseja. Quando a sintonia está afinada, então, vocês podem se juntar e tocar a bola pra frente unidos.

Unir as forças
A sinergia, disse o professor Cortella (no mesmo vídeo), é fazer força junto. Essa “força junto” é que garante a eficiência do seu trabalho. Não adianta ter empatia e simpatia se você não canalizar isso pra alcançar objetivos. Não adianta ter o mesmo objetivo que o público-alvo se vocês não se unirem e não fizerem força juntos para alc
ança-los –  a caminhada de vocês pode não ter os resultados que vocês esperavam. “De nada adianta uma relação respeitosa que não tenha eficiência e eficácia e, por outro lado, de nada adianta fazer força junto (que é o sentido da palavra sinergia) sem que haja uma sintonia, do contrário essa força se dispersa, ela fica fraturada, ela se fragmenta no campo da ação”, diz o professor Cortella.
Alunas do projeto Tramas, que trabalha o resgate da cultura indígena terena na aldeia Passarinho, em Miranda, no Pantanal de Mato Grosso do Sul, tem a mentoria do Ipedi: para desenvolver a ação, foi preciso um intenso trabalho de construção de relação de confiança mútua entre o instituto e os realizadores da iniciativa, liderados pela professora indígena Evanilda Rodrigues. Foto: Luciano Justiniano.

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