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Mulheres que inspiram – A PROFESSORA INDÍGENA QUE ENFRENTOU DIFICULDADES PARA GARANTIR EDUCAÇÃO QUE RESPEITA A CULTURA DE SEU POVO

A Maísa é uma daquelas pessoas com as quais a gente conversa sobre a vida e logo se emociona. Ela fala com paixão, com sentimento, da batalha que é ser professora de escola pública no Brasil. No caso da Maísa, uma batalha pintada com cores mais fortes, pois é professora indígena. Assim, além de enfrentar todas as agruras de um país que não valoriza a educação, ela, como seus colegas indígenas, encara ainda o preconceito e a falta de uma política clara e efetiva de valorização da educação escolar que respeite a cultura e os saberes tradicionais, que é prevista legalmente mas que raras vezes sai do papel.

Falar da Maísa é falar da educação indígena, não há como dissociar uma da outra. Foi da experiência de dificuldades que ela enfrentou para exercer seu ofício que surgiram iniciativas para que o Ipedi executasse vários trabalhos de melhoria na qualidade da educação indígena. Maísa nos sensibilizou demonstrando na pele todas as dores de seus colegas professores indígenas. Assim, foi uma das idealizadoras e entusiastas do projeto Kalivono, de qualificação de professores e produção de material didático bilíngue, numa iniciativa pioneira no Brasil, em se tratando de povos indígenas.

Da experiência dela em sala de aula surgiu o projeto Fábulas de Esopo em Terras Terena, um livro com fábulas da literatura clássica traduzido pro terena e ilustrado por crianças de escolas públicas privadas, indígenas e não-indígenas de Miranda.

Dos esforços da Maísa, surgiu o Congresso de Educação Escolar Indígena Rede Kalivono, evento que reuniu professores indígenas locais com autoridades internacionais em linguística, num processo de qualificação jamais realizado para educadores da rede pública indígena.

É deste evento, o registro da Maisa que trazemos aqui, para prestarmos nossas homenagens. Ela carrega a pequena Melina, a “Mel”, uma indiazinha linda, que bebe na fonte e aprende desde cedo a força da mulher. Mel será uma liderança, indígena, é claro, mas acima de tudo feminina, porque aprendeu dentro de casa a capacidade de transformação de sua comunidade que a mulher tem. Maísa lhe dá o exemplo. Ela nos dá o exemplo. Ela nos inspira. Obrigado Maísa. Parabéns pelo Dia Internacional da Mulher.

- Nesta semana em que celebramos o Dia Internacional da Mulher, trazemos historias  de mulheres que ajudam a transformar suas comunidades e que fazem os projetos do Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural, um organização que tem a alma feminina, porque nasceu do sonho de mulheres guerreiras.
A professora indígena Maisa, que trabalha para melhorar a qualidade da educação indígena
Maisa, professora indigena, amamenta a pequena Mel: luta para educação indígena de qualidade. Foto: Luciano Justiniano

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