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Na Semana do Meio Ambiente, projeto fortalece relação das crianças com a natureza

São cerca de 250 mil metros quadrados, englobando terras de três países diferentes, formando a maior planície alagável do planeta. Considerado Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera pela Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura).  Um dos mais ricos ecossistemas do Brasil, possui vasta variedade de espécies de plantas e animais. Jacarés, capivaras, ariranhas, peixes diversos (263 espécies diferentes catalogadas até agora), ariranhas, onças-pintadas, veado-campeiro são algumas das espécies que vivem num cenário formado de vegetação gramínea nas planícies, pequenos arbustos e vegetação rasteira nas áreas intermediárias e, nas regiões mais altas, árvores de grande porte. Bem-vindo ao Pantanal. Bem-vindo especialmente a Mato Grosso do Sul (MS), estado brasileiro que abriga cerca de 80% da área do Pantanal que se estende ainda pelo estado vizinho de Mato Grosso e pelos países fronteiriços Bolívia e Paraguai.
Abrigando todo este patrimônio ecológico, Mato Grosso do Sul tem função primordial na conservação do ecossistema pantaneiro. Isso fica mais evidente quando levamos em consideração que o estado possui a segunda maior população indígena do Brasil, perdendo apenas para a Amazônia. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2016, vivem em MS 77 mil pessoas declaradas indígenas.
É neste quadro que se localiza o município de Miranda, cidade que fica dentro do Pantanal, distante cerca de 200 quilômetros da capital de MS, Campo Grande.
O município possui a maior concentração de indígenas da etnia terena no Brasil, com 8283 indivíduos, vivendo em oito aldeias, conforme dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
A importância dessa comunidade indígena para a conservação do meio ambiente é reconhecida por organizações como a WWF, conhecida mundialmente por seu trabalho pela preservação da natureza. “O WWF reconhece a importância dos direitos aos recursos e ao conhecimento indígenas para a preservação dessas áreas no futuro”, diz o site oficial da organização, que completa: “Em suas longas histórias de manejo do meio ambiente, os povos tradicionais acumularam grandes quantidades de conhecimentos que poderiam ser benéficos para a conservação ambiental e o uso sustentável de recursos naturais em todo o mundo”.
O problema é que muito dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas como dos terenas de Miranda, estava se perdendo. Iniciativas como o projeto Cultura e Identidade Terena, desenvolvido numa das escolas municipais indígenas locais, tenta resgatar um pouco desses saberes.
O projeto é financiado pela organização Brazil Foundation e está em seu segundo ano de atividades, sob a mentoria do Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (Ipedi). Funciona na Escola Municipal Indígena Pillad Rebuá, que atende crianças do ensino fundamental das aldeias Moreira e Passarinho. No contraturno das aulas cerca de 70 crianças participam de atividades que buscam resgatar conhecimentos tradicionais da comunidade. As crianças gostam, especialmente, do trabalho com artesanato típico, construído a partir de materiais oferecidos pela natureza da região. As técnicas, desde a coleta de material como sementes, pedaços de madeira, folhagens, até a confecção das peças são repassadas às crianças por anciãos das comunidades e  professores indígenas, garantindo o fortalecimento da relação dos estudantes não apenas com a cultura mas também com a natureza que os rodeia.
Tanto, que a retomada de atividades do projeto em 2017 aconteceu no dia 05 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, em evento realizado pela escola, com a mobilização de pais, professores e aprovação especial dos líderes indígenas locais. “Estamos à disposição para apoiar a iniciativa, com toda nossa liderança”, afirmou o vice-cacique da aldeia Moreira, Pedro Campos Neto.
Num reconhecimento do fortalecimento da iniciativa da comunidade, a secretária Municipal de Educação, professora Elaine Brito, participou do encontro elogiando o trabalho realizado pelas duas coordenadoras voluntárias do projeto, as professoras Sônia Acosta Machado e Evanilda Rodrigues. “Estamos à disposição para apoiar o projeto”, disse a secretária.

Para a secretária do Ipedi, a especialista em educação Walquíria Angélica dos Santos Bitonti, o trabalho desenvolvido pelo projeto, de resgate de saberes tradicionais, é fruto dos esforços de todos os professores indígenas do município, que lutam para fortalecer a educação diferenciada para as crianças terenas de Miranda.
Entre as atividades, acompanhadas por professores e com orientação de anciãos, as crianças fazem coleta de matéria-prima na natureza para desenvolver a produção de artesanato típico.
Professores, lideranças indígenas, diretores do Ipedi, com alunas do grupo de dança do projeto Cultura e Identidade Terena.



Cestaria terena é um dos conhecimentos que estão sendo recuperados junto às crianças. A produção de artesanato é uma das formas alternativas de renda para a comunidade. 


O projeto, desenvolvido nas aldeias, fortalece a relação das crianças com a cultura e o meio ambiente, despertando a atenção deles  para seus papéis na conservação da natureza.

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