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Projeto social com mulheres indígenas: empoderadas, elas dominam processo de produção de artesanato para gerar renda a suas famílias


Meninas indígenas aprendem o ofício de produção de artesanato em taboa – projeto trabalha ainda produção de outras formas de artesanato e fazem oficina que criou um grupo de dança indígena feminino.
Meninas indígenas aprendem o ofício de produção de artesanato em taboa – projeto trabalha ainda produção de outras formas de artesanato e fazem oficina que criou um grupo de dança indígena feminino.

“A renda da venda dos artesanatos será revertida diretamente para as artesãs, num dinheiro que vai incrementar a renda das famílias”, afirma Evanilda Rodrigues, coordenadora do projeto.
“A renda da venda dos artesanatos será revertida diretamente para as artesãs, num dinheiro que vai incrementar a renda das famílias”, afirma Evanilda Rodrigues, coordenadora do projeto.

Peças em taboa são cobiçadas principalmente por turistas que, agora, terão como adquirir o artesanato direto das artesãs.
Peças em taboa são cobiçadas principalmente por turistas que, agora, terão como adquirir o artesanato direto das artesãs.

Com o trabalho, artesãs buscam protagonismo, participando de todo o processo de criação à comercialização do produto
Com o trabalho, artesãs buscam protagonismo, participando de todo o processo de criação à comercialização do produto
As mãos ligeiras vão dominando a palha dura e seca, criando pouco a pouco, tramas que dão forma a cobiçadas peças – algumas utilitárias, outras apenas de decoração. As mesmas mãos que se esmeram em construir formatos artísticos e de beleza estética ímpar, são as mãos que colheram a taboa, planta típica do Pantanal e usada como matéria-prima para a produção de cestaria por artesãs indígenas da etnia terena em Miranda, no Pantanal de Mato Grosso do Sul.
Colher, preparar a taboa e produzir. Assim é a prática das artesãs indígenas da região. A comercialização das peças é uma parte do processo em que as mãos delas não alcançam.  Na maioria das vezes o artesanato é vendido por atravessadores, o que afeta diretamente o valor da renda gerado para as artesãs.
Mas esta realidade começa a ser transformada. Um grupo de mulheres da aldeia indígena terena Passarinho, em Miranda, iniciou um trabalho comunitário em que elas reforçam o protagonismo feminino – um desafio gigantesco em se tratando de uma comunidade tradicional, com forte característica patriarcal, em que o homem é sempre o responsável pela ultima palavra – e tomam conta de todo o processo: da coleta, à confecção chegando a comercialização por elas próprias dos produtos que vão construindo. E não são apenas cestarias de taboa. Há adornos, brincos, colares, peças de cerâmica indígena – tudo feito pelo grupo e que será oferecido para comercialização para turistas e visitantes do Pantanal.
O desenvolvimento das atividades se transformou num projeto social, batizado de “Tramas”, uma iniciativa comunitária que conta com o patrocínio da organização filantrópica Brazil Foundation, com mentoria do Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural, o Ipedi.
“O nosso principal diferencial é que ao fazermos as peças, ao trabalharmos o artesanato, vamos oferecer oficinas de resgate e valorização cultural para um grupo de meninas indígenas da aldeia”, conta a coordenadora do projeto, Evanilda Rodrigues. Assim as mulheres indígenas esperam não apenas gerar renda, como fortalecer aspectos da cultura tradicional indígena que estão se perdendo. “A renda da venda dos artesanatos será revertida diretamente para as artesãs, num dinheiro que vai incrementar a renda das famílias”, afirma Evanilda, explicando que o objetivo é que a comercialização de artesanato indígena sem atravessadores se fortaleça e se profissionalize como uma das fontes geradoras de renda para as comunidades indígenas locais.
Além do artesanato o Tramas vai oferecer oficina de dança indígena para meninas da aldeia. A dança indígena feminina é um costume que estava se perdendo e que vem sendo resgatado nos últimos anos por projetos similares ao Tramas e que também contaram com o apoio da Brazil Foundation e do Ipedi. “Esta valorização da nossa cultura é muito importante principalmente para nossos jovens, para que eles recuperem sua autoestima e sintam orgulho de sua identidade indígena”, diz Envailda, que conta que, ela mesma, tinha vergonha de ser chamada de indígena. “Só depois de muito tempo tomei consciência de que eu devia que me orgulhar em ser índia. Minha vida mudou depois, disso, me sinto uma pessoa completa, realizada agora”, conta.
Terena
Cerca de 30% da população do município de Miranda, de pouco mais de 26 mil habitantes,  é formada por indígenas da etnia Terena. Localizado no Pantanal de Mato Grosso do Sul, o município é o que possui maior concentração de indígenas terena no estado – a população indígena de MS chega a 44 mil indivíduos segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os terenas passam por um processo de risco de extinção de sua língua materna – o idioma terena, uma das formas de manifestação cultural mais importantes para definição da identidade daquele povo. A Unesco criou uma classificação de avalia os níveis de vitalidade da língua, numa gradação que vai do 01 (grau a salvo) até o 06 (grau de extinção da língua). Segundo esta classificação, a língua terena está no nível 04           (grau de língua seriamente em perigo). O desaparecimento da língua pode significar a extinção de saberes tradicionais que definem o povo indígena terena.
Por isso, desde 2012 o Ipedi vem desenvolvendo ações focadas em promover o protagonismo de lideranças indígenas para a construção de ferramentas que promovam o fortalecimento da cultura indígena terena.

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