Acreditamos que a construção de um mundo mais fraterno passa por uma atitude: não machucarmos as pessoas.
Podemos machucar alguém de muitas formas, a gente sabe
disso. Mas aqui, falamos em machucar como sinônimo de negligenciar direitos,
violando o bem-estar das pessoas. Está machucado o adulto que não sabe ler e
escrever. Está machucada a língua indígena que morre um pouco cada dia, porque
as crianças já nem sabem mais como falar... E machucado está o índio que vê seu
idioma materno morrer e levar consigo a parte mais importante da sua cultura
que é sua identidade e que, no fim, é parte indissolúvel do Brasil que
formamos.
O Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural atua para
possibilitar a comunidades tradicionais e historicamente negligenciadas, o acesso a novas tecnologias, conhecimentos e
práticas sustentáveis - para, assim, cuidar dos machucados causados pela
violação de direitos que impedem o bem-estar das pessoas.
O Ipedi surgiu em 2012, por meio da convergência de ideais
de profissionais ligados, inicialmente, à Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul (UFMS). Fazem parte da gênese do instituto a linguista Andréa Marques Rosa, o
pesquisador indígena Aronaldo Júlio, a
historiadora Cíntia Nardo Marques Gonzales, a
mestre e doutora em educação Claudete Cameshi de Souza, a professora doutora em linguística Denise
Silva e a historiadora Paula Renata
Cameschi de Souza.
No começo, o objetivo era organizar as iniciativas levadas a
cabo pela UFMS junto às comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul. “A ideia
era dar uma devolutiva à comunidade dos trabalhos acadêmicos realizados junto
às aldeias indígenas”, explica a linguista Denise Silva, atual presidente do
Ipedi.
Surgiu assim o Projeto de Formação Continuada para o Ensino
da Arte e Cultura Terena. Foi a primeira ação do Ipedi, financiada pela Brazil
Foundation e pela UFMS. A iniciativa consistiu num curso de formação continuada
que beneficiou 35 professores indígenas e que teve como resultado a
distribuição, em abril de 2015, de mil exemplares de um livro didático, o
Kalivono, para educação infantil indígena. A publicação foi inteiramente
produzida pelos professores indígenas capacitados pela formação continuada – um
formato pioneiro no Brasil.
Desde então, os trabalhos junto à educação indígena se
intensificaram. A comunidade recebeu as ações de braços abertos. Logo surgiram as primeiras iniciativas
protagonizadas por integrantes das próprias comunidades indígenas. E estas
iniciativas deram tão certo que receberam financiamento de instituições como a
Brazil Foundation, a Fundação Banco do Brasil, o Ministério da Cultura, a
Natura, entre outros apoios que foram sendo angariados ao longo do caminho.
O êxito do trabalho do Ipedi foi reconhecido e instituições
importantes como a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul e a Câmara
Municipal de Miranda aprovaram moções honrosas ao instituto que recebeu, em
2015, o título de Utilidade Pública Municipal, concedido pela Câmara Municipal
com chancela da Prefeitura de Miranda.
Neste tempo, recebemos outros prêmios importantes:
- Movimento Acolher da Natura, 2015 pelo projeto
Kalivono -
http://www.movimentonatura.com.br/c...
- Finalista do Prêmio Tecnologia Social da Fundação Banco do
Brasil
http://tecnologiasocial.fbb.org.br/...
- Prêmio Brasil Criativo, Secretaria de Cultura do Estado de
São Paulo, 2015;
http://www.premiobrasilcriativo.com.br/...
- Prêmio Inovação Comunitária, Brazil Fundation, 2017
(projeto Resgate da Cultura Terena);
https://brazilfoundation.org/ii-pre...
- Prêmio Inovação Comunitária, Brazil Fundation, 2017
(projeto Cultura e Identidade Terena);
https://brazilfoundation.org/ii-pre...
- Prêmio Inovação Comunitária, Brazil Fundation, 2017
(projeto Barca de Letras).
https://brazilfoundation.org/ii-pre...
O trabalho reverberou internacionalmente. O instituto
participou de apresentações em eventos sobre linguística na Argentina. Pelo
Brasil, a comunidade acadêmica reconheceu o trabalho do instituto,o que
resultou na participação em diversos eventos importantes.
A boa recepção da metodologia do Ipedi, que prima pelo
desenvolvimento do protagonismo dentro das comunidades, fez com que as
iniciativas do instituto não ficassem apenas nas comunidades indígenas. Em
2017, o primeiro projeto fora do âmbito indígena fora aprovado para
financiamento da Brazil Foundation: o Barco de Letras, que foi selecionado para
ser patrocinado por meio do edital Inovação Comunitária e que vai promover a
alfabetização de pescadores artesanais de Miranda. Pense no quanto está
machucada uma pessoa que, nos dias de hoje, não sabe ler ou escrever?
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