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Bruaca: vivências e produtos culturais

 O projeto Bruaca é uma iniciativa comunitária, desenvolvida nas comunidades tradicionais do Pantanal que se desenvolve por meio de ações de pesquisa, documentação e divulgação do saber ancestral dessas comunidades por meio de vivências e produtos culturais. Nossa iniciativa busca a valorização do Patrimônio Cultural Material e Imaterial das Comunidades Tradicionais do Pantanal de MS. Desenvolvemos ações de pesquisa, documentação e divulgação do saber ancestral dessas comunidades por meio de vivências e produtos culturais (materiais e imateriais). A iniciativa configura-se ainda como uma alternativa para a geração de renda dessas comunidades que, por estarem distantes da cidade não possuem meios para comercializar seus produtos. A comercialização de vivências como a produção de artesanato com um indígena, almoço na casa de um agricultor, o passeio de barco com um pescador; observação de aves na aldeia são alguns dos produtos oferecidos pela marca, soma-se a isso a comercialização in-loco e por e-comerce de artesanatos dessas comunidades. Além da renda gerada por tais ações, a iniciativa propicia a valorização do conhecimento ancestral dessas comunidades, o que impacta na autoestima dos grupos historicamente marginalizados. A Bruaca é uma marca inspiradas nas bolsas feitas e usadas nos lombo de cavalos nas comitivas em que os pantaneiros atravessam o Pantanal. Essa mala funcionava para o transporte de alimentos e roupas, usada sempre aos pares penduradas nas cangalhas, o equipamento de suporte era apoiado diretamente sobre o lombo do cavalo ou da mula. A escolha desse nome veio para transportar ao cliente a sensação da cultura pantaneira como um todo. A bruaca leva aquilo que é essencial ao ser humano, da mesma forma, os produtos e serviços da marca irão entregar ao cliente a essência da cultura pantaneira, em experiências, turismo e produtos. Assim, a atmosfera da Bruaca, se dá através de imagens, histórias e textos que levam o consumidor distante à realidade do Pantanal como um todo. Do alimento consumido, à vivência indígena, a refeição na fazenda, a comitiva, a simplicidade e a natureza exótica. Através da ligação de mídias diferenciadas, na utilização das redes sociais e do site da marca, o consumidor terá acesso às histórias que envolvem os produtos e serviços que consumirão. A Bruaca foi uma forma que encontramos para compartilhar as experiências e vivências culturais do Pantanal. Um curso de cerâmica na aldeia, um almoço na casa do produtor, e-commerce de produtos locais, passeios guiados com comunidades ribeirinhas são alguns dos objetos oferecidos pela marca. Produtos físicos, experiências e turismo de base comunitária vão guiar o "Bruaqueiro" para as savanas pantaneiras em imersões culturais e sensoriais. Nosso propósito é uma imersão na cultura pantaneira, através de produtos e serviços que respeitam a Sociobiodiversidade brasileira com o propósito de Transformar o comportamento local, para a valorização da cultura e história, com a geração de experiências turísticas, cursos e venda de produtos. Além da missão, objetivos e dos valores da Bruaca entrarem em consonância com as propostas globais orientadoras da Agenda 2030, da ONU, as ações, como um todo, possuem como ponto de partida a realidade das comunidades tradicionais do Pantanal, para atuação superior em prol da emancipação das mesmas. Propondo-se a promoção de um desenvolvimento a partir dos recursos econômicos e naturais oriundos dos próprios pescadores e comunidades indígenas, essa proposta possui como visão se tornar uma referência no que se refere a promoção de experiências singulares aos consumidores e a comunidade, no que tange a incorporação dos conhecimentos imateriais com a cultura alimentar e artística do povo pantaneiro. Sendo o ambiente pantaneiro uma área reconhecidamente rica e diversa, tanto pela fauna, pela flora e pelo seu povo, o projeto identifica uma necessidade de se reconhecer a identidade da população local a partir da imersão do ser em todo o contexto característico do pantaneiro. Assim, mais do que uma pessoa conhecer as belezas naturais, a onça-pintada e os aguapés, é possível potencializar as experiências a partir de uma coparticipação sobre os hábitos e saberes ancestrais indígenas com a natureza durante uma enfermidade; são os modos de se pescar, retalhar, temperar e de se preparar uma refeição tipicamente ribeirinha; são as técnicas de se colher e trançar os fios com as mulheres na cestaria; é na extração consciente das tintas oriundas de folhas, frutos e árvores, para embelezar os corpos num rito. Aproximando-se os atores que desenham o ser pantaneiro, a Bruaca vê e se propõe a transformar essas experiências como uma forma de promover a sustentabilidade dessas tradições, ao mesmo tempo em que as vivências das comunidades não sejam afetadas abruptamente. Com a proposição de um negócio socialmente responsável, é possível transformar os hábitos locais em rendas a esses atores, que no seu dia a dia, tem quem os guie e aguce a curiosidade em conhecer as particularidades da nossa cultura, que vivencie e colabore na elaboração de uma refeição com os agricultores e pescadores, que forneça produtos elaborados e reconhecidos pelos mesmos, que demonstre o pantanal sob um olhar mais lúdico e vívido. Dentro de um movimento cíclico participativo, os membros das diferentes comunidades criam novos vínculos, aproximando parcerias em prol da oferta de uma experiência diferenciada. Além de promover uma emancipação comunitária, a Bruaca ainda se vê no desafio de tornar o ambiente pantaneiro um legado de grande importância aos seus próprios habitantes. Considerado uma região expressivamente turística, é necessário a promoção da consciência social, não só sobre os recursos naturais, mas pela pluralidade cultural residente no seu entorno. Reconhecer que as danças aprendidas pelos indígenas com seus ancestrais, as técnicas de pesca, e os saberes e os sabores construídos pelo pantaneiro constituem-se em fontes potenciais de desenvolvimento econômico municipal, da criação de postos de trabalho, merecendo uma atenção especial da sociedade, do poder público e do comércio local. Tendo em vista a utilização racional dos recursos naturais, o projeto se apresenta como de grande impacto na região pantaneira, respeitando-se a sazonalidade na oferta de produtos oriundos da agrobiodiversidade. No município, é possível que os consumidores experimentem produtos locais in natura e quitutes elaborados pelas comunidades, feitos à base de bocaiúva, guavira, baru, mel, mangaba, laranjinha de pacu, pequi e jatobá. Do jatobá, da guavira e do baru, por exemplo, é possível encontrar ainda técnicas produtivas sutis, mas carregadas de inovação, com especiarias singulares que acompanham e dão novos sabores a carnes, bolos, geleias, pães, sobremesas, licores, sorvetes, entre outros, configurando-se como “laboratórios de experimentação” coletiva, da/para as comunidades pantaneiras. Existe também peixes das mais variadas espécies, como o surubim (pintado), a pacupeva e o pacu; as PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), além de hortaliças, verduras e frutas produzidas pelos agricultores. No processo de maturação da carne “seca ou verde”, elaborado pelo pantaneiro para resistir ao tempo e ser característico durante a lida diária com os animais, é utilizado no arroz, paçoca, macarrão, entre outros. As relações sociais também são estabelecidas durante uma roda de conversa regada a tereré, com regras e ordenamentos para participar desse “momento”. Quanto a atuação social da Bruaca, cabe ainda ressaltar a promoção e estímulo a grupos bastante específicos na região. São grupos de mulheres e jovens indígenas, na produção de artesanatos; são idosos indígenas e ribeirinhos, tanto a turistas quanto na própria comunidade, numa tentativa de se patrimonializar ao longo do tempo, os saberes sobre a vida, as propriedades e uso das plantas, sobre os peixes, as memórias da resistência, da língua, dos cuidados com o ambiente, das águas, enfim, das suas raízes; são os pescadores e pescadoras, adentrando a sua cozinha, seus barcos e seus segredos sobre o rio; são os agricultores (as) e suas roças, capazes de alimentar sua família e as pessoas ao seu redor. Para a efetivação das ações propostas no Projeto Bruaca contamos com a parceria das comunidade tradicionais do Pantanal, das universidades UFMS e UFGD, do IFMS e do Trade Turístico da Região do Pantanal Sul.



Denise Silva e a professora indígena Evanilda Rodrigues
na apresentação da Bruaca em evento em Bonito-MS


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