Crianças
que não conhecem cantos e instrumentos tradicionais; que não praticam ritos
tradicionais. Ritos e danças tradicionais fadados a desaparecer com os anciãos à
medida em que estes vão, pouco a pouco, falecendo. Não é mais este o cenário
que encontramos na aldeia indígena terena Babaçú, no município de Miranda, no
Pntanal de Mato Grosso do Sul.
A
aldeia é exemplo de que a união e o trabalho em conjunto podem promover a
verdadeira transformação da comunidade. Lá, na Babaçú, em 2016 e 2017 o
Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (Ipedi) foi mentor do
projeto Sons da Aldeia, uma iniciativa comunitária que, com patrocínio da
associação Brazil Foundation, desenvolveu atividades relacionadas ao resgate da
cultura tradicional indígena terena junto a alunos da escola local.
Os
resultados do trabalho são sentidos quando se verifica que atos rituais que já
não faziam mais parte do dia-a-dia das crianças tenham voltado a ser
realizados, tais como o batismo indígena, ritual em que a criança índia dança
pela primeira vez. O batismo voltou a acontecer e o resultado palpável é o fato
de que, em muitos anos, esta é a primeira vez a aldeia Babaçú voltou a ter um
grupo de dança infantil.
“Trabalho
com a comunidade da aldeia Babaçu há muito tempo e ainda não tinha visto o
ritual do batismo e as crianças tão envolvidas neste processo da dança”, relata
a doutora em linguística Denise Silva, presidente do Ipedi, que esteve na
Babaçú representando o instituto durante as celebrações do 19 de abril, Dia do
Índio. “O Sons da Aldeia nos enche de orgulho à medida em que conseguimos medir
os resultados práticos de todo o trabalho coordenado pela professora Marlene Rodrigues,
transformador da comunidade, num processo que fortalece a identidade,
melhorando a autoestima dessas crianças”, completa a presidente do Ipedi.
Kalivono
O Sons
da Aldeia é um projeto-desdobramento do Kalivono. O projeto inicial, Kalivono, foi desenvolvido junto a educadores
indígenas e que, com aplicação de tecnologia social criada pelo Ipedi, produziu
livros didáticos bilíngues terena-português. O Kalivono recebeu diversos
prêmios, principalmente pelo ineditismo do que propõe: a construção de material
didático, a partir da demanda da comunidade, fazendo com que o aprendizado
tenha mais significação para as crianças indígenas, ao mesmo tempo em que se
resgata uma língua que estava em vias de ser extinta. A língua é fator decisivo
para fortalecimento da identidade cultural e da autoestima. “Leva-se muitos
anos para resgatar uma língua, uma cultura e isso se deve a diversos fatores,
mas especialmente a necessidade de envolvimento da comunidade na proposta”, diz
Denise, sobre o sucesso do trabalho desenvolvido pelo Ipedi junto às
comunidades indígenas. “Nosso diferencial é que oferecemos espaço para
protagonismo indígena, mas ficamos sempre atentos para auxiliá-los no que for
preciso”, afirma a presidente do Ipedi, dando como exemplo o trabalho de mentoria
feito pelo instituto junto ao projeto Sons da Aldeia.
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