“Meu povo tem
uma história muito triste, em relação à língua. No passado meu povo foi muito
massacrado e proibido de falar a língua. Da nossa língua, hoje, nós só temos
dois falantes”, conta o professor Raynney Datxe, indígena da etnia Apiaká, da
região amazônica, no norte de Mato Grosso.
Datxe integra a
comitiva de educadores da etnia Apiaká que vieram a Miranda, município que fica
a 210 km de Campo Grande. O objetivo da viagem, financiada pelo Ministério da
Cultura, é conhecer o trabalho desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa da
Diversidade Intercultural (Ipedi) para o resgate da língua e da cultura dos
índios terena que residem em oito aldeias de Miranda. O projeto do Ipedi,
Kalivono, recebeu diversos prêmios nacionais e ajuda no ensino do idioma Terena
em escolas municipais indígenas de Miranda, promovendo a preservação da língua
que também está em extinção.
A tecnologia criada
pelo Ipedi pode ser reaplicada para ajudar a salvar outras línguas indígenas em
extinção no Brasil, como a língua dos Apiakás. “Nosso objetivo na aldeia
Babaçú, no município de Miranda, foi de
conhecer como é que foi desenvolvido este projeto, porque no futuro nós
queremos também fazer o mesmo”, afirma o professor Raynney Datxe. Segundo a
professora Fernanda Silva, coordenadora do projeto que possibilitou a vinda dos
Apiakás a Miranda, a ideia da iniciativa foi “fazer uma troca pedagógica dos
processos de ensino-aprendizagem, aprender com a escola a partir das
experiências já vivenciadas”.
O grupo de
Apiakás chegou a Miranda no sábado, 13 de maio. Receberam exemplares do livro Kalivono
e acompanharam a aplicação do material pelos professores indígenas nas escolas
da região.
Os
Apiakás
Os Apiakás são
uma população indígena com menos de mil indivíduos. Residem em áreas demarcadas
no noroeste de Mato Grosso. Formavam um povo guerreiro e numeroso que enfrentou
em batalhas os borracheiros que chegaram à região em meados do século XIX.
Atualmente não consideram como língua materna o idioma Apiaká, porque a maioria
só fala português.
Projeto
premiado
O projeto que
será conhecido pelos Apiaká é o Kalivono, que consiste na produção de material
didático para educação infantil e alfabetização, ambos bilíngues
(português-terena) e pautados na cultura local. O projeto Kalivono é
reconhecido nacionalmente e recebeu diversos prêmios, entre eles: Movimento
Natura, Prêmio Brasil Criativo da Secretaria de Estado de Cultura de São Paulo
e Fundação Banco do Brasil.
“É um momento
muito importante para o Ipedi, ver que um trabalho feito com esforço de toda
nossa equipe e com o apoio imprescindível da comunidade terena está
reverberando e pode ajudar a evitar a extinção de outras línguas indígenas”,
diz a presidente do Ipedi, pós-doutora em linguística, Denise Silva.
Da esq. p/ dir.: Pós-doutora Denise Silva
(presidente do Ipedi); Josué da Silva (cacique da aldeia Babaçú); Alcindo
Faustino (ancião da aldeia Babaçu); Leonardo Munduruku (diretor da Escola
Estadual Indígena Mayrowi Apiaká): os visitantes receberam exemplares do livro
Kalivono e conheceram as práticas pedagógicas aplicadas em sala de aula.
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O livro Kalivono é bilíngue (português-terena), foi produzido por professores indígenas e aplicado na educação infantil e na alfabetização das escolas municipais indígenas de Miranda, MS. |
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A forma de produção do material didático
e a aplicação dele em sala de aula inspira outras iniciativas como a dos
Apiakás, que querem evitar a extinção de sua língua materna.
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