Segundo
classificação criada pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura) a língua indígena terena encontra-se em
situação de “seriamente em perigo”, no que diz respeito à sua extinção. O
terena está no nível 4 da classificação que vai de 1 (língua a salvo) até 6
(língua extinta).
Neste
contexto o indígena terena Genildo Alcantara Mamede apresentou dissertação de
mestrado que traça um quadro geral da língua em sua aldeia de origem, a aldeia
Buriti, localizada no município de Dois Irmãos do Buriti, que fica a cerca de
100 quilômetros de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul.
O
trabalho, realizado no Programa de Pós-Graduação em Letras da Faculdade de
Comunicação, Arte e Letras da Universidade Federal da Grande Dourados teve em
sua banca, entre outros pesquisadores, a presidente do Instituto de Pesquisa da
Diversidade Intercultural (Ipedi), doutora em linguística Denise Silva.
“Entre
nossos trabalhos no instituto temos diversos projetos relacionados à questão da
revitalização da língua terena, portanto participarmos da produção científica
neste sentido é de extrema importância para aperfeiçoamento das nossas ações”,
afirma Denise, que destaca ainda o protagonismo indígena na questão,
representado pela realização de um importante trabalho de pesquisa por um indígena
como é o caso da dissertação apresentada por Genildo.
A
dissertação de Genildo, com o título “A língua terena na aldeia Buriti-MS:
realidade sociolinguística e políticas linguísticas”, tem entre seu objetivos
“identificar a realidade sociolinguística da aldeia Buriti e discutir políticas
linguísticas já estabelecidas, bem como a elaboração de outras ações que possam
auxiliar no processo de revitalização da
língua terena nessa área indígena”.
A
dissertação de Mamede cita, como fonte de pesquisa, entre outras, trabalho
publicado na Revista Sociodialeto, da Universidade Estadual de Mato Grosso do
Sul, de autoria da doutora, presidente do Ipedi, Denise Silva, e de professora
indígena Maysa Antonio também membro do instituto. O artigo publicado sob o título
“Reflexões sobre a língua terena: da descrição fonológica a indícios de mudança sonora” trata “da descrição
fonética e fonológica da língua Terena, retomando uma discussão sobre uma
possível mudança sonora em curso nessa
língua”.
Atualmente
a aldeia Buriti tem 1050 pessoas residentes. Segundo a tese de Genivaldo, “de
maneira geral, somente os avós e as pessoas de gerações mais velhas falam a
língua. Os parentes adultos dessas pessoas, embora compreendam, não falam entre
si, tão pouco com seus filhos, salvo raras exceções”, o que reforça a situação
de risco de extinção em que o terena se encontra conforme classificação da
Unesco.
Entre
as causas para esta situação, Mamede aponta o contato intenso com os
não-índios. “Os povos indígenas do Brasil, de uma maneira geral, têm vivenciado
um processo de contato com não-indígenas cada vez mais intenso, o que tem
colaborado para uma série de fatores que, em via de regra, fragilizam as
línguas indígenas, os conhecimentos tradicionais e modificam, em grande medida,
a forma de organização social desses povos”.
“Essas
pesquisas, realizadas com forte protagonismo dos próprios pesquisadores
indígenas, são de extrema importância para traçar um panorama da língua terena
em Mato Grosso do Sul, e, desse modo, nortear políticas que visem a
revitalização da língua e o fortalecimento da identidade cultural dos terenas”,
diz Denise Silva.
Mato Grosso do
Sul possui a segunda maior população indígena do Brasil, perdendo apenas para a
região da Amazônia. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) em 2016, vivem em MS 77 mil pessoas declaradas
indígenas.
Banca
Além da doutora
Denise Silva, participaram da banca ainda outras referências na área de
linguística e antropologia: o doutor Andérbio Márcio Silva Martins (presidente
da banca), o doutor Marcos Lúcio Souza Góis (membro), ambos do Programa de
Pós-Graduação em Letras da UFGD e o doutor Levi Marques Pereira, do Programa de
Pós-Graduação em Antropologia da UFGD e uma dos maiores autoridades no estudo
da causa indígena no Brasil.
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Da esq. p/ dir.: doutor
Andérbio Márcio Silva Martins; mestre Genildo Mamedes; doutor Levi Marques
Pereira; doutora Denise Silva; doutor Marcos Lúcio Souza Góis.
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A dissertação cita trabalho realizado pelas pesquisadoras do Ipedi, Denise Silva e Maisa Antonio. |
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