Pular para o conteúdo principal

Projeto do Ipedi é reconhecido por prêmio da Natura

O projeto Barco de Letras, que oferece alfabetização aos pescadores ribeirinhos da região do Pantanal do município de Miranda, cidade que fica a cerca de 200 quilômetros de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, foi um dos 10 reconhecidos em todo o Brasil pelo Prêmio Acolher 2017, do Movimento Natura.
A iniciativa da Natura visa premiar consultores e consumidores da marca envolvidos em ações sociais. No caso do Barco de Letras o projeto foi reconhecido na categoria consumidores, com mentoria da presidente do Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (Ipedi), a pós-doutora em linguística Denise Silva e coordenado pela historiadora Janete Correa.
“A premiação vai proporcionar que iniciemos a construção de um material didático específico, direcionado para os pescadores”, celebra Denise Silva. “Estamos muito orgulhosos de termos sido reconhecidos entre projetos de todo o país”, completa.
Agora, o Barco de Letras passa para a próxima fase do Prêmio Acolher, que é a votação popular. Todos os 10 projetos reconhecidos receberão votos pela internet e os vencedores em cada categoria receberão premiação de R$ 5.000,00 que devem ser reaplicados para desenvolvimento dos próprios projetos. Para votar no Barco de Letras, acesse www.votacaoacolher.com.br.
O Barco de Letras
A iniciativa nasceu da demanda apresentada pelos próprios pescadores que enfrentam problemas no dia-a-dia por não saberem ler nem escrever. Na Colônia de Pescadores Z-5, local mantido pela associação destes profissionais, eles se se encontram e, entre as atividades diárias, entre uma venda de pescado e outra, trocam lamentos das agruras de não dominarem o alfabeto: é difícil para negociar o pescado; dificuldade para preencher documentos da rotina da pesca; é difícil, até, para saber usar o celular e tirar aquela foto, daquele peixão que o pessoal só vai acreditar que não é “história de pescador” se tiver fotografado! “A gente quer ler uma receita de remédio, você não pode, você quer fazer uma continha de um peixe, você não pode, você quer ler alguma coisa, uma placa, um nome de uma rua que está escrito, você não lê. A gente vê um celular legal que a gente quer tirar uma foto, fazer um vídeo... não sabe...” enumera a dona Nilza Bandeira, uma das beneficiárias do projeto.
O projeto é coordenado Janete Correa, ribeirinha que, diferente da maioria, conseguiu se formar nos bancos acadêmicos. É historiadora e voluntária para alfabetizar as pessoas de sua comunidade. “Os ribeirinhos são muito carentes na área da educação”, conta. Por isso o apoio que o Barco de Letras recebe é tão celebrado. O projeto é realizado com mentoria do Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (Ipedi) e tem patrocínio da organização Brazil Foundation que viabilizou o apoio financeiro que vem do exterior, de jovens moradores do bairro nova iorquino de Bonxville. “Um pessoal de tão longe estar se importando ‘com nós’ que somos apenas ‘uns pescador’ ribeirinho fico muito agradecida”, agradece a dona Nilza.
O projeto começou com 25 pescadores que frequentam as aulas no espaço da Colônia de Pescadores, todos os dias, no fim da tarde. O exercício da profissão deles obriga o projeto a se adaptar. Muitos dos alunos saem para o rio e ficam Pantanal adentro por semanas, morando nas chalanas. Levam, consigo, tarefas preparadas pela professora Janete. “Eles levaram as atividades e fizeram o compromisso de fazer”, relata Janete, com a confiança de que só dispõe quem realmente conhece a realidade peculiar destes alunos. Este é apenas um dos desafios do Barco de Letras.
Outro desafio se refere à demanda que, com o desenrolar das atividades, está crescendo. Mais pescadores, confiantes no projeto, têm demonstrado o desejo de aprender a ler e a escrever. É o caso, por exemplo, de um grupo de pescadores residentes em Salobra, distrito que fica a cerca de 20 quilômetros da cidade. Eles queriam fazer parte do Barco de Letras. Janete e a organização do projeto deram um jeito. Ampliaram as ações e levaram as aulas para Salobra, aos sábados. A Colônia de Pescadores como personalidade jurídica, se tornou parceira da iniciativa e garante o transporte para a Janete ir até Salobra nos fins de semana. Outros parceiros estão surgindo no caminho, doando, entre outras coisas, mesas e material escolar. O sonho dos pescadores está mobilizando a comunidade. Ler e escrever está sendo, para eles, o começo de uma nova história.
Todo o trabalho desenvolvido leva em consideração a realidade e a disponibilidade dos alunos, buscando potencializar os resultados por meio da contextualização.
A coordenadora do Barco de Letras, Janete Correa, a presidente do Ipedi, Denise Silva e o seu Joaquim, pescador beneficiado pelo projeto.

Alunos do projeto com parte da equipe do Ipedi: iniciativa mobiliza a comunidade em prol dos pescadores que querem realizar o sonho de aprender ler e escrever.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bruaca: vivências e produtos culturais

 O projeto Bruaca é uma iniciativa comunitária, desenvolvida nas comunidades tradicionais do Pantanal que se desenvolve por meio de ações de pesquisa, documentação e divulgação do saber ancestral dessas comunidades por meio de vivências e produtos culturais. Nossa iniciativa busca a valorização do Patrimônio Cultural Material e Imaterial das Comunidades Tradicionais do Pantanal de MS. Desenvolvemos ações de pesquisa, documentação e divulgação do saber ancestral dessas comunidades por meio de vivências e produtos culturais (materiais e imateriais). A iniciativa configura-se ainda como uma alternativa para a geração de renda dessas comunidades que, por estarem distantes da cidade não possuem meios para comercializar seus produtos. A comercialização de vivências como a produção de artesanato com um indígena, almoço na casa de um agricultor, o passeio de barco com um pescador; observação de aves na aldeia são alguns dos produtos oferecidos pela marca, soma-se a isso a comercialização in-lo

Crianças indígenas de aldeia terena voltam a praticar ritos e danças tradicionais esquecidos

Crianças que não conhecem cantos e instrumentos tradicionais; que não praticam ritos tradicionais. Ritos e danças tradicionais fadados a desaparecer com os anciãos à medida em que estes vão, pouco a pouco, falecendo. Não é mais este o cenário que encontramos na aldeia indígena terena Babaçú, no município de Miranda, no Pntanal de Mato Grosso do Sul. A aldeia é exemplo de que a união e o trabalho em conjunto podem promover a verdadeira transformação da comunidade. Lá, na Babaçú, em 2016 e 2017 o Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (Ipedi) foi mentor do projeto Sons da Aldeia, uma iniciativa comunitária que, com patrocínio da associação Brazil Foundation, desenvolveu atividades relacionadas ao resgate da cultura tradicional indígena terena junto a alunos da escola local. Os resultados do trabalho são sentidos quando se verifica que atos rituais que já não faziam mais parte do dia-a-dia das crianças tenham voltado a ser realizados, tais como o batism

STARTUP DE IMPACTO SOCIAL NASCIDA NO IPEDI VAI REPRESENTAR MATO GROSSO DO SUL EM DESAFIO NACIONAL DE STARTUPS

  A startup Bruaca, um projeto derivado das ações do Ipedi, venceu desafio Like a Boss, promovido pelo Sebrae (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa) de Mato Grosso do Sul e foi uma das três escolhidas para representar o estado no Startup Summit, considerado o maior evento de startups do Brasil. A Bruaca participou do processo de escolha sendo avaliada criteriosamente pelo Sebrae, passou por etapas eliminatórias de seleção, chegando à final, realizada em 27 de maio. “Esta é uma conquista de todo um grupo de pessoas que acredita na força da cultura como geradora de qualidade de vida para as comunidades tradicionais de Mato Grosso do Sul”, afirmou Denise Silva, pós-doutora em linguística, coordenadora da Bruaca e presidente do Ipedi. A Bruaca funciona como uma cesta de serviços, auxiliando na intermediação da comercialização de produtos culturais das comunidades tradicionais do Pantanal com o objetivo de gerar renda para estas comunidades, gerando impacto social positivo. At