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Projeto do Ipedi é tema de artigo acadêmico da UFMS

O projeto Kalivono, que produziu material didático bilíngue (português e na língua indígena terena), desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (Ipedi) em parceria com professores indígenas terena foi tema de artigo de conclusão de curso da acadêmica indígena do curso de pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Tabita Silva Leandro. O artigo, intitulado “Material Didático de Língua Terena, Considerações Sobre o Livro Kalivono” será publicado pela UFMS.

“Sou índia terena e não falo a língua materna e nem entendo, acredito que este livro é uma forma de contribuir com a nossa cultura , e melhor ainda dentro da sala de aula”, diz Tabita, indígena da aldeia urbana Aldeinha,no município de Anastácio, MS.
A presidente do Ipedi, a pós-doutra em linguística Denise Silva, ao lado da pós-doutora em educação, professora Ana Lúcia Gomes, foi co-orientadora do trabalho de Tabita, apresentado como forma da conclusão do curso de Licenciatura em Pedagogia do Campus da UFMS em Aquidauana.

“A professora Denise sendo não indígena faz um trabalho muito realizador, estando do lado dos nossos irmãos, é uma excelente profissional que está em busca de um só objetivo a educação e a valorização do povos indígenas”, diz Tabita.

A acadêmica destacou a importância do Kalivono para a sobrevivência da cultura indígena terena. “A língua e a Cultura estão sendo se perdendo, não vemos mais os adolescentes falar a sua língua materna, ainda os anciãos mantém, e o livro traz essa esperança de não se perder no tempo”, afirma a nova pedagoga indígena.

O KALIVONO
A palavra, em terena – língua indígena falada pela comunidade homônima, que tem sua maior concentração nacional em Miranda, no Pantanal de MS, onde o Ipedi atua – significa “criança” ou “avançando um pouco mais”.

O nome é simbólico uma vez que o projeto promove a revitalização da língua e o fortalecimento de saberes tradicionais indígenas que estavam se perdendo com o tempo.

O Kalivono consiste numa metodologia em que professores e toda a comunidade escolar são envolvidos no processo de construção de um material didático próprio, focado em ser bilíngue: terena e português. Como resultado além do fortalecimento do espírito comunitário e do resgate de saberes tradicionais, há um livro didático que é o primeiro na história a dar ênfase ao ensino bilíngue terena-português. O Kalivono é o primeiro livro que os professores indígenas terena têm para ensinar em sala de aula para crianças do Ensino Fundamental.

CERTIFICAÇÃO
O Kalivono é certificado pela Fundação Banco do Brasil como uma tecnologia social. Ou seja, um processo criado para solucionar um problema social e que atende os quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e impacto social comprovado. Além disso o Kalivono foi finalista do Prêmio de Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil, recebeu o prêmio Brasil Criativo da Secretaria de Estado de Cultura de São Paulo e o Prêmio Acolher do Movimento Natura.
Projetos realizados a partir do Kalivono receberam o prêmio Cultura Indígena, do Ministério da Cultura, e foram contemplados por dois anos consecutivos pelo Prêmio de Inovação Comunitária da organização não-governamental Brazil Foundation.

IMPACTO
Diretamente, o projeto impactou cerca de 800 alunos das escolas municipais indígenas de Miranda. De modo indireto o impacto alcança a população de mais de 15 mil indígenas da etnia terena de Mato Grosso do Sul ao passo em que a iniciativa promove a revitalização de saberes tradicionais em vias de extinção. Ao mesmo tempo toda a população de MS é beneficiada, sob o ponto de vista da proteção de patrimônio imaterial de extrema importância para o Estado fortemente marcado pela presença de povos indígenas. – a população indígena de MS chega a 44 mil indivíduos segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

EM EXTINÇÃO
Cerca de 30% da população do município de Miranda, de pouco mais de 26 mil habitantes,  é formada por indígenas da etnia Terena. Localizado no Pantanal de Mato Grosso do Sul, o município é o que possui maior concentração de indígenas terena no estado.
Os terenas passam por um processo de risco de extinção de sua língua materna – o idioma terena, uma das mais importantes formas de manifestação cultura para definição da identidade daquele povo.
A Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação e Cultura) criou uma classificação de avalia os níveis de vitalidade da língua, numa gradação que vai do 01 (grau a salvo) até o 06 (grau de extinção da língua). Segundo esta classificação, a língua terena está no nível 04  (grau de língua seriamente em perigo). O desaparecimento da língua pode significar a extinção de saberes tradicionais que definem o povo indígena terena.


Meninas indígenas das aldeias Passarinho e Moreira recebem o livro Kalivono, em seu lançamento: revitalização de uma cultura. Foto: Luciano Justiniano


Grupo de dança indígena foi criado a partir do trabalho do livro. Foto: Luciano Justiniano


O Kalivono tem como diferencial a participação ativa dos professores e da comunidade na construção do material.
Foto Luciano Justiniano

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