Em parceria com o Ipedi, grupo carioca Teatro do Sopro exercita a empatia pela arte do palhaço com mais de 300 pessoas em Miranda, MS
Todos temos direito à ternura. O autor colombiano Luis
Carlos Restrepo, psiquiatra e mestre em filosofia, defende que a ternura é um
direito que negligenciamos diariamente. Em sua obra “O Direito à Ternura”,
Restrepo busca recuperar a afetividade e a ternura como componentes da ação
pedagógica – que desde há muitos haviam sido excluídas em favor do rigor
científico.
Exercendo o direito à ternura , à afetividade, à
empatia – esses direitos não institucionalizados mas tão
negligenciados nos dias atuais – para
gerar conhecimento e levar à reflexão sobre temas importantes, o Instituto de
Pesquisa da Diversidade Intercultural (Ipedi) e o grupo Teatro do Sopo, do Rio
de Janeiro, RJ, em Miranda, no Mato Grosso do Sul, em meados de setembro de
2016.
Com patrocínio da Brazil Foundation, apoio da então
Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Semec) e da Pousada Nativos, em 4
dias, sete atividades desenvolvidas pelo Teatro do Sopro com organização do
Ipedi, envolveu 387 pessoas e 22 organizações.
As atividades foram realizadas de forma separada, com grupos
específicos. Com os professores indígenas, as dinâmicas dos integrantes do
Teatro do Sopro trataram da natureza e da função do educador e porquê da
importância da empatia.
“Nos exercícios de palhaços, precisamos nos adaptar à
cultura deles: por que nossos exercícios de aproximação, de toque, de se olhar
nos olhos, de brincar, gritar, rir, etc., provocam um pouco demais! Os líderes
do grupo nos avisam que são muitas coisas difíceis para o jeito muito
reservado, discreto, ‘tímido’ mesmo na cultura indígena”, afirma o canadense
Olivier-Hugues Terreault, um dos fundadores do Teatro do Sopro. “Mas, quando,
gritamos que o saci chegou, e que ele estava com fome e começamos a correr para
brincar de pega-pega, encarnando esse saci: imediatamente acabou a ‘timidez do
índio’: gritos e risos, brincadeiras e abraços explodiram! Achamos o quebra
gelo e começamos a caminhar juntos os passos do Empatilhaço [expressão
utilizada pelo grupo para designar a empatia produzida pela arte do palhaço],
compartilhando o que cria uma cultura da empatia nas ações de cada um. E no
final aceitamos convites para visitar aldeais, brincar com as crianças, e
encontrar os idosos”, completa Terreault.
Foram desenvolvidas atividades com grupos de professores dos
Centros de Educação Infantil (Ceinfs), grupo de idosos, professores do ensino
fundamental da Rede Municipal de Educação (Reme).
Na troca de experiências entre o Ipedi e o Teatro do Sopro,
o grupo carioca destacou os trabalhos desenvolvidos pelo Ipedi junto às
comunidades indígenas, principalmente. Conforme Flávia Marco, outra integrante
do Teatro do Sopro, o Ipedi “está criando no final uma metodologia para ajudar
comunidades à escolher a ‘modernidade’ que eles desejam: o que eles querem
manter da cultura tradicional e da cultura moderna, e como mistura essas duas e
passar isso para a gerações futuras. Uma metodologia que pode se aplicar à várias
comunidades indígenas ainda tradicionais, rurais ou já urbanizadas do Brasil
inteiro, e além, para o mundo. Mas também isso pode se transferir para outras
comunidades nesta transição, como nas culturas afro-brasileiras de várias
‘favelas’ urbanas. E o que a cultura moderna precisa também integrar das
culturas tradicionais, numa modernidade cada vez mais ‘nômade’, ‘virtual’ e
sempre mudando, e com uma grande necessidade de sustentabilidade”. Flávia
destaca o trabalho desempenhado, neste sentido, pela atual presidente do
Ipedi, doutor em linguística Denise
Silva.
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