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Ipedi participa de arranjo colaborativo com a Ecoa

No segundo semestre de 2016 o Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultura (Ipedi) e a organização Ecologia e Ação (Ecoa), trocaram experiências durante o Arranjo Colaborativo promovido com o apoio da Brazil Foundation em Miranda, MS. Ambas as instituições desenvolvem seus respectivos trabalhos em Mato Grosso do Sul e a ideia foi aproximá-las, gerando uma importante rede colaborativa que pode potencializar os resultados dos trabalhos tanto de uma quanto de outra entidade.
O objetivo do arranjo colaborativo, de um modo geral, foi o de “aprimorar os trabalhos realizados pelas organizações proponentes, agregar a temática ambiental e valorização cultural no dia a dia dos professores e das crianças participantes do projeto”, dizem o Ipedi e a Ecoa no relatório final do encontro. O relatório complementa: “As metodologias desenvolvidas pelas duas organizações foram integradas compondo uma nova formação para os professores com a finalidade de promover a valorização dos conhecimentos tradicionais e despertar a importância da conservação do meio ambiente. A ECOA trabalhou o conceito de educação ambiental crítica por meio do uso da metodologia da educomunicação que permite o desenvolvimento de práticas que valorizam o ambiente local e o saberes dos participantes, por meio da produção de informações os participantes conseguem fazer conexões ambientais, sociais e culturais resultando em uma educação reflexiva que também ajuda na autoestima dos professores e alunos por meio da concretização de sua produção. O IPEDI por sua vez contribuiu com as metodologias para a valorização e a revitalização dos conhecimentos tradicionais e da diversidade étnica e cultural dos povos indígenas”.
Metodologia
Foram realizados dois encontros de formação na cidade de Miranda, um para repassar a metodologia para os professores e outro para orientação e avaliação do trabalho em andamento. Após o primeiro encontro os professores começaram a desenvolver a metodologia com seus alunos em parceria com a comunidade. Foram realizadas rodas para contação de contos, causas e histórias e visitas nas casas de anciãs. Todas as informações levantadas resultaram em vários zines produzidos pelos alunos com auxilio dos professores. A equipe do projeto teve a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento das ações em algumas comunidades. No encontro de orientação e avaliação das atividades foi importante para dar mais segurança aos professores para continuidade do trabalho a produção do zine. Apesar de algumas dificuldades que encontraram na montagem do zine, os professores e alunos conseguiram o principal que é a produção do conteúdo que traz o resgate dos contos, mitos e lendas da comunidade indígena.
As comunidades avaliaram muito bem as ações, uma vez que elas valorizam os contos, mitos e lendas da região e o conhecimento dos mais velhos, que era repassado oralmente por meio das rodas de conversa, fato que não acontece na atualidade. Assim o projeto contribuiu para a valorização do patrimônio imaterial das comunidades, para a formação dos professores, para o processo de ensino-aprendizagem nas escolas atendidas e para o registro e documentação desse saber tão rico, mas que por não estar registrado, permanece na memória dos mais velhos, correndo o risco de ser extinto.
Veja depoimentos de quem participou:
“Desenvolver o trabalho do zini, na sala do 3º foi bom achei interessante. No inicio, como as vezes acontece, alguns não queria fazer parte do grupo e sim individual. Até ai tudo bem. Uns queriam mas mostraram desinteressados, mas também tinham aqueles que estavam ansiosos. Com o passar do tempo, depois de tudo esclarecido, todos tiveram um animo só. Cada um queria caprichar o máximo. Ficaram felizes ao serem registrados junto com o trabalhinho. Fiquei maravilhada com o desenvolvimento dos desenhos apresentados. A felicidade foi dobrada quando eu disse a eles, teriam o trabalho de volta, mas em forma de um livrinho. Agora todos estão ansiosos, aguardando esse grande momento”.
Arlete, 3º ano do Ensino Fundamental - Escola PiladRebua – Aldeia Moreira

“O Zini foi realizado com a turma do 4º ano, foi muito importante, pois os alunos realizaram com bastante entusiasmo, falando da lenda da loira no banheiro e a lenda do saci-pereré, que usaram sua imaginação para descrever e desenvolver a lenda, pois é uma forma prazerosa de despertar neles o imaginário e a produção de texto”.
Evanilda Rodrigues, professora do 4º ano do Ensino Fundamental, E.M.P. PiladRebuá – Aldeia Passarinho

“Eu adorei o Zine pois ele abre um leque muito grande para o aluno desenvolver o seu imaginário, onde eles se interagem com o colega trocando o conhecimento e aceitando a ideia do outro, pois muitas vezes ele e tímido com o professor mas com o colega não. Principalmente a área indígena que tem o dom do desenho, mas tem muita vergonha de desenvolver, os nossos alunos gostam quando a gente ou melhor o professor leva alguma coisa de novidade, no começo vai meio devagar mas logo eles desenvolvem um bom trabalho principalmente quando envolve a sua cultura, a sua história”.
Sonia Acosta, Coordenadora da Escola Municipal Indígena PóloPiladRebuá – Aldeia Moreira e Passarinho

“Bom, a atividade de confecção do Zine foi bastante interessante, pois nas oficinas pude aprender como é feito, a formação das oficinas fez muita diferença pois é algo que está ajudando nós professores, porque é sempre importante fazer uma educação diferenciada, na confecção os alunos participaram atentamente e criativamente, pois através da confecção do zine eles aprenderam sobre o folclore e sobre a cultura terena, que é bastante importante para nossos alunos, não houve muita dificuldade para a prática em sala, pois estava sempre auxiliando quando necessário”.
Fernanda Cantareli, Escola Municipal Indígena PóloPiladRebuá – Aldeia Passarinho

“Eu desenvolvi o trabalho na Escola Municipal Indígena Pólo Presidente João Figueiredo – Extensão Irmãos Souza, na Aldeia Lalima, com os alunos do segundo ano do ensino fundamental nos dias 13, 14 e 15 de setembro. O trabalho foi através de pesquisa com uma visita na casa da senhora Maria José Rodrigues de 89 anos, onde ela contou histórias e contos, os alunos adoraram o trabalho. O segundo passo foi a produção do Zine, com desenho, pintura, recorte e colagem. Estas atividades foram através de pesquisas, oralidade, escrita, um trabalho de grande proveito. Organizamos um círculo de baixo do pé de amora para ouvir as lendas, contos e causos”. 
Maria Clementina Capriata, professora do 2º ano do Ensino Fundamental – Escola Municipal Indígena Pólo Presidente João Figueiredo – Extensão Irmãos Souza, na Aldeia Lalima

“Realizei o trabalho dentro da sala de aula na Aldeia Mãe Terra (área de retomada) com a turma do Multisseriado (1ºao 5º  ano). As crianças adoraram esse trabalho do Zine, foi uma troca de experiência porque pesquisaram algumas histórias, lendas e contos com seus pais, depois começaram a trabalhar através de recorte, colagem e desenho dos próprios alunos. Por esse motivo fico muito grata com as doutoras que nos trouxe esse belíssimo trabalho que nós desenvolvemos com a nossa turma na aldeia Mãe Terra”.
Maria Belizário, professora da Escola Municipal Indígena Pólo Felipe Antonio, Extensão Mãe Terra -Aldeia Mãe Terra

 “Essa pequena produção foi realizada através do trabalho dos alunos com seu conhecimento sobre lenda, causo e contos. O levantamento foi feito com a comunidadejunto com professores e alunos que contam essas histórias, usando sua criatividade. Todos os trabalhos que foram realizados foram feitos por alunos de cada grupo, cada grupo escolheu o tema para trabalhar. A vida pessoal é inserida do ponto de vista, em consideração a nossa história. Passa ser inserida em dimensões históricas da comunidade buscando dialogar temas importantes com o grupo. Aprendi coisas novas, nos encontros que tivemos adquiri novas experiência.  E pude passar e usar essa experiência que aprendi como dialogar com os alunos.  Sobre Zine, os alunos aprenderam a produzir coisas novas, que ajudou no desempenho de cada um”.
Adriana Turibio – professora da Escola Municipal Indígena Pólo Felipe Antônio – Aldeia Argola

“Para mim foi uma experiência enriquecedora poder conhecer a realidade das escolas indígenas. Achava que nós no Pantanal enfrentávamos muitas dificuldades, mas não é assim. Depois de ouvir os relatos e conhecer os professores das escolas indígenas vejo que a situação deles é bem mais difícil”.

Jefferson Arruda – professor da Escola Municipal Rural Boa Esperança – Região do Taquari









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